top of page
"curso de hipnoterapia" "curso de hipnose" "curso de hipnose clinica" "curso online de hipnoterapia" "aprender hipnoterapia" "hipnose" "hipnoterapia" "hipnose clínica" "auto-hipnose" "formação em hipnose clínica"

Bullying e suas consequências: impactos no cérebro, na psique e na construção social do sujeito

Introdução: por que compreender o bullying e suas consequências exige um olhar técnico e multidisciplinar


O fenômeno do bullying ultrapassa o senso comum e exige uma compreensão técnica, interdisciplinar e baseada em evidências. Apesar de sua aparência banalizada em ambientes escolares ou virtuais, o bullying representa uma forma grave de violência crônica, muitas vezes naturalizada em contextos institucionais e familiares. Suas consequências não se limitam ao momento da agressão. Elas produzem efeitos duradouros, modulam o funcionamento cerebral, alteram o desenvolvimento emocional, interferem na aprendizagem e repercutem negativamente na vida adulta, tanto no plano subjetivo quanto no relacional.

Sob a ótica das neurociências, o bullying e suas consequências configuram um quadro complexo de disfunções comportamentais, emocionais e sociais que exigem resposta clínica e institucional coordenada. Este texto explora as múltiplas camadas desse fenômeno, seus mecanismos de impacto e caminhos possíveis de prevenção e reparação.


Bullying e suas consequências

O que caracteriza o bullying? Dimensões comportamentais, relacionais e institucionais


Elementos essenciais que definem o bullying

De acordo com os principais referenciais da psicologia do desenvolvimento, o bullying é definido pela presença simultânea de três elementos:


  1. Intencionalidade – a agressão é deliberada e visa ferir ou humilhar.

  2. Repetição – os atos ocorrem de forma contínua ou sistemática.

  3. Desequilíbrio de poder – a vítima encontra-se em posição de vulnerabilidade, real ou simbólica, frente ao agressor.


Essas características distinguem o bullying de conflitos isolados e apontam para uma estrutura de violência persistente, que se perpetua em diferentes ambientes: escolas, redes sociais, grupos familiares e até espaços profissionais.


Modalidades do bullying

Além do bullying físico (empurrões, socos, agressões diretas), é essencial reconhecer outras formas igualmente danosas:


  • Bullying verbal: ofensas, xingamentos, apelidos pejorativos;

  • Bullying psicológico: exclusão social, manipulação, intimidação;

  • Cyberbullying: exposição pública, difamação ou perseguição online;

  • Bullying institucional: omissão ou conivência de figuras de autoridade frente à violência.


Cada modalidade produz efeitos distintos, mas todos compartilham um denominador comum: a desestruturação do senso de pertencimento e segurança do sujeito.


Bullying e suas consequências no cérebro: impactos estruturais e funcionais


As neurociências têm fornecido evidências robustas sobre os efeitos do bullying no desenvolvimento cerebral, especialmente durante a infância e adolescência, períodos críticos de neuroplasticidade.


Eixo HHA e estresse tóxico

O bullying crônico ativa de forma desregulada o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), levando à liberação constante de cortisol, o principal hormônio do estresse. Quando esse eixo é hiperestimulado de maneira prolongada, ocorre um fenômeno conhecido como estresse tóxico, com efeitos neurotóxicos documentados.

Essa ativação contínua compromete o amadurecimento funcional de estruturas-chave:


  • Amígdala: hiperativação associada ao aumento da reatividade emocional e do estado de alerta;

  • Hipocampo: redução volumétrica ligada a déficits de memória e consolidação do aprendizado;

  • Córtex pré-frontal dorsolateral: prejuízo no controle inibitório, julgamento moral e tomada de decisões.


Essas alterações são observadas em exames de neuroimagem funcional (fMRI) e morfológica (MRI), com destaque para estudos longitudinais em vítimas de bullying escolar (Teicher et al., 2018; McCrory et al., 2022).


Bullying e suas consequências na saúde mental: da infância à vida adulta


Transtornos associados à vivência de bullying

A literatura clínica mostra que o bullying está correlacionado ao aumento do risco para uma série de transtornos psicopatológicos:


  • Transtornos de ansiedade (especialmente fobia social e transtorno do pânico);

  • Transtornos depressivos recorrentes;

  • Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT);

  • Transtornos de personalidade (borderline, evitativa);

  • Transtornos do sono e somatizações (cefaléias, dores crônicas);

  • Transtornos alimentares (anorexia, bulimia, compulsão alimentar);

  • Etc.


Consequências internalizadas e externalizadas

Os efeitos do bullying podem se manifestar de maneira internalizada, como retraimento, autodepreciação, isolamento e ansiedade social, ou externalizada, como agressividade, impulsividade e comportamento de risco. Ambas as vias estão relacionadas à tentativa inconsciente do sujeito de reorganizar um mundo interno desestabilizado.


Consequências sociais e educacionais: bullying como fenômeno de exclusão


O bullying e suas consequências comprometem não apenas a saúde mental individual, mas também o desempenho acadêmico e a integração social.


  • Redução da autoestima e da autoeficácia acadêmica;

  • Evasão escolar e baixo rendimento;

  • Dificuldades de socialização e vinculação afetiva;

  • Estigmatização por parte de colegas e professores;

  • Sensação de insegurança no ambiente educacional.


Quando naturalizado, o bullying pode configurar uma violência institucionalizada, na qual a escola deixa de cumprir seu papel protetivo e formativo. Nesses casos, o trauma não é apenas relacional, mas também sistêmico (Olweus, 1993).


Efeitos do bullying na vida adulta: traços duradouros e sequelas psíquicas


Muitos adultos que viveram bullying durante a infância ou adolescência relatam, anos depois:


  • Dificuldades relacionais crônicas (evitação, dependência emocional, ciúmes patológicos);

  • Padrões de autossabotagem e sentimento de inadequação;

  • Dificuldade em assumir posições de liderança ou protagonismo;

  • Reprodução de padrões abusivos em relações afetivas ou profissionais;

  • Desenvolvimento de transtornos somatoformes, ansiedade crônica ou depressão refratária.


Essas marcas evidenciam que o bullying não é um episódio isolado do passado, mas um trauma potencialmente transgeracional, que pode afetar a forma como o sujeito se vê, se vincula e atua no mundo (Fonagy & Allison, 2014).


Caminhos para prevenção, cuidado e ressignificação


A complexidade do bullying e suas consequências exige abordagens integradas e multissetoriais. Algumas estratégias eficazes incluem:


  • Capacitação de educadores para identificar sinais precoces e intervir de forma ética;

  • Programas de mediação de conflitos e educação emocional nas escolas;

  • Promoção de ambientes afetivamente seguros e inclusivos;

  • Terapias baseadas em evidências, como a Hipnoterapia.


A hipnoterapia tem se mostrado especialmente eficaz no tratamento de traumas complexos, modulando o sistema nervoso autônomo, reduzindo sintomas de ansiedade e ampliando o acesso a recursos internos de resiliência. Utilizada de forma ética, com respaldo clínico e fundamentação científica, essa abordagem pode acelerar significativamente o processo de recuperação emocional (Barber, 2020; Hammond, 2010).


Conclusão: bullying e suas consequências não são invisíveis, são mensuráveis, tratáveis e evitáveis


O bullying não é um rito de passagem nem um simples desentendimento entre pares. É uma forma de violência que deixa marcas mensuráveis no cérebro, na psique e no corpo. Seus efeitos não desaparecem espontaneamente com o tempo, ao contrário, tendem a se cronificar quando ignorados. Compreender o bullying e suas consequências, à luz da ciência e da clínica, é o primeiro passo para romper o ciclo de dor e exclusão que ele perpetua.

Intervir precocemente, oferecer suporte psicológico qualificado e fomentar uma cultura de respeito são ações urgentes para que possamos transformar realidades adoecidas em trajetórias de saúde, dignidade e pertencimento. E, nesse caminho, a hipnoterapia clínica pode ser uma poderosa aliada na reestruturação emocional de quem sofreu, e ainda sofre, os efeitos silenciosos do bullying.


Referências


Barber, J. (2020). Hypnosis and Suggestion in the Treatment of Pain: A Clinical Guide. Routledge.

Fonagy, P., & Allison, E. (2014). The role of mentalizing and epistemic trust in the therapeutic relationship. Psychotherapy, 51(3), 372–380.

Hammond, D. C. (2010). Hypnosis in the treatment of anxiety- and stress-related disorders. Expert Review of Neurotherapeutics, 10(2), 263–273.

Klomek, A. B., Sourander, A., & Gould, M. (2015). The association of suicide and bullying in childhood to young adulthood: A review of cross-sectional and longitudinal research findings. The Canadian Journal of Psychiatry, 55(5), 282–288.

McCrory, E., Gerin, M. I., & Viding, E. (2022). Annual Research Review: Childhood maltreatment, latent vulnerability and the shift to preventative psychiatry – the contribution of functional brain imaging. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 63(5), 552–571.

Olweus, D. (1993). Bullying at school: What we know and what we can do. Wiley-Blackwell.

Teicher, M. H., Samson, J. A., Anderson, C. M., & Ohashi, K. (2018). The effects of childhood maltreatment on brain structure, function and connectivity. Nature Reviews Neuroscience, 17(10), 652–666.

 
 
 

Yorumlar


 Instituto PIH®

bottom of page